Hipocondria: “[Do lat. Cient. hypochondria < lat. Tard. Hypocondria.] S. f. 1. Psiq. Afecção mental em que há depressão e preocupação obsessiva com o próprio estado de saúde: o doente, por efeito de sensações subjetivas, julga-se preso a condições mórbidas na realidade inexistentes e passa a procurar, permanentemente, tratamentos que, além de descabidos, são muitas vezes perigosos (medicações, intervenções cirúrgicas, etc.). [Sin., desus.: nosomania.] 2. Tristeza profunda; melancolia: ‘Era um acesso de hipocondria, uma invasão de tristeza negra, biliosa’ (Camilo Castelo Branco, Serões de São Miguel de Ceide, I, p. 35)”[2].

Evaristo de Moraes Filho é o maior hipocondríaco do mundo. E o de maior sucesso. Tem cem anos de idade e nunca morreu. Apesar de se anunciar a si mesmo e aos seus,  quase que diariamente.

Jurista, professor de direito do trabalho, sociólogo do Brasil, capaz de nos fazer compreender e nos explicar. Foi cassado como professor na Faculdade de Direto da UFRJ, então Faculdade Nacional de Direito, por falsa denúncia de um seu colega de turma, Eremildo Vianna, de triste figura.

Este entrou para a história pela porta dos fundos. E aí ficou. Delatou aos militares as ideias e sonhos de seus colegas. Inclusive de um bravo pacífico Evaristo. Elio Gaspari criou um personagem e chama-o de Eremildo, o Idiota. Assim será conhecido. Não consta que tenha sido hipocondríaco. Mas Evaristo, seu desafeto, sim.

A tal ponto que alguns dias, metia-se num terno escuro, colocava camisa social, gravata e sapatos lustrados, deitava-se na cama, cruzava as mãos nos peitos, fechava os olhos e avisava aos seus que estava pronto para morrer. Ia morrer. Tentava mas não conseguia. Não morria. O fracasso de qualquer hipocondríaco é ficar doente.

O sucesso, no entanto, é apenas imaginar-se doente. Fazer os outros acreditarem na gravidade e profundidade de seus auto evidentes sintomas. Ficar tomando frequentemente seu pulso e sua pressão arterial, como definem os médicos da Clínica Mayo, dos Estados Unidos[3]. Cada vez mais possível devido aos ótimos e baratos novos aparelhos que se compram em qualquer farmácia.

Para o hipocondríaco, o sintoma não é o começo da eventual doença. É o início do fim inevitável. Tudo que parece, já é. O sofrimento psicológico não é uma impostura. A doença é imaginada, mas a dor é real.

Termômetros, estetoscópios, gemidos, taquicardias, remédios urgentes, só encontráveis em farmácias de difícil acesso, com o tempo acumulam-se na cabeceira da cama do hipocondríaco. Espiam com severidade. Receitar é preciso, toma-los não. Não fazem efeito mesmo. Não se cura imaginação. Mas se gasta fortuna com prazos de validade vencidos.

O importante é ter sintomas não verificáveis e não mensuráveis, suspeitosos, indicadores de possibilidades, muito mais do que de certezas. O que não é difícil. Devido à tecnologia se desenvolveu tão rapidamente, os exames mostram mais do que os médicos podem ver, interpretar e entender. PET scan anual é sempre o desejo secreto. Mostram o passado, o presente e futuro do corpo. Muita vez antes do tempo.

Nesta profusão de novas tecnologias médicas, surge nova especialização: o médico intérprete de exames. O médico da urgência lhe devolve ao médico clínico, que lhe manda para o médico especialista, que lhe manda para o médico que faz o exame, que lhe manda para o médico interpretador do exame. Literal cadeia sem fim. Terra fértil a dúvidas e conflitos intermináveis. A probabilidade de aparecer alguma doença oculta é imensa. Cinco médicos para cada sintoma.

***

O objetivo principal de um hipocondríaco é colocar uma dúvida razoável, plausível, na cabeça do médico. Ou dos médicos. Faze-los desconfiar de si mesmos, e acabarem cedendo. Examinando e receitando. Acolhendo.

Porque os médicos acabam cedendo aos hipocondríacos, perguntamos. Será possível que eles não veem, com toda sua ciência, anos de profissão, que doença sentida é quase ilusão à toa?

Eis aí a fortaleza do hipocondríaco: o medo dos médicos. O hipocondríaco de hoje é o doente de amanhã. Todos sabem que um dia o hipocondríaco também vai ficar doente. Pode até de fato morrer. Os sintomas podem ser reais. Não se pode facilitar. Correrá risco. Todos os procedimentos têm que ser realizados, mesmo inundados por incredibilidades. O médico tem pouca saída.

Não há maior descrédito para um médico que não ter acreditado no hipocondríaco. E que ele morreu em suas mãos. Levou uma bola pelas costas, como receia o importante médico e futebolista. Morreu de incredibilidade médica.

Não por menos, um hipocondríaco norte-americano pediu que colocassem na sua lápide a seguinte frase: “Eu bem que avisei!”.

Alguns médicos, no entanto, são mais imunes a estas estratégias. Conheci um hipocondríaco que começou com seus sintomas justamente na quinta à noite. Pioraram na sexta. No sábado ficaram insuportáveis. Naquela época o médico ia em casa. No sábado à tarde foi indispensável chamá-lo. O hipocondríaco morria a olhos vistos. Neste caso, já agonizava.

Chamaram o médico às seis da tarde. Entre a chamada e a chegada, demorou uma hora, o suficiente para o hipocondríaco se sentir muito melhor, quase curado. Já conseguia respirar sem ofegar. As dores diminuíram. Os sintomas também.

Começou a sentir vergonha imensa, sentimento de culpa, pela crueldade que fizera com o sábado do médico, quando o porteiro avisou. O médico chegara. E irrompeu quarto a dentro.

Doutor, doutor, quase sem voz. Me desculpe, me desculpe, já estou melhor. Acho que foi um ataque de hipocondria. Já estou melhor. Aliás, não sinto mais nada. Foi se levantando da cama quase pronto.

Não senhor. Não senhor. Vociferou o médico. Deite-se. Vou lhe examinar por inteiro. Vou fazer todos os testes. Responda a minhas perguntas. Estire a língua.

Mas doutor …

– Deite-se. Puxou o estetoscópio, como se fosse um punhal e disse: respire fundo. E alertou-se a si mesmo: Hipocondríaco também morre.

Este é o temor dos médicos: a possibilidade de realmente o hipocondríaco vir a morrer. O hipocondríaco joga com os inevitáveis limites da ciência médica e a inevitável impotência profissional do médico que, por definição, sempre chega. Um dia o paciente hipocondríaco, em vão, vai morrer.

Hipocondríaco que se preze só fica doente sábado ou domingo. Dia de consultórios fechados, médicos inalcançáveis, almoçando fora, passando o fim de semana em Búzios, viajando para congressos, seminários cursos de reciclagem, onde o celular não pega. Obstáculos absolutamente indispensáveis para a cura do hipocondríaco.

No entanto, cuidados excepcionais alguns hipocondríacos têm de ter: não deixarem ser levados à emergência do hospital no sábado ou no domingo. Nestes dias há vagas nos hospitais. Inclusive na UTI. Dificilmente conseguirá sair de lá. Mesmo sabendo que o médico, desconfia que não há nada de grave. Hospitalização raramente cura hipocondria. O hipocondríaco espera ser curado sem exageros.

Aliás, o conceito do que é grave em medicina é muito complexo.

Vinicius de Moraes procurou com urgência seu médico que, fora do consultório, foi encontrado em meio de uma conferência médica, da qual foi arrancado.

“O que houve para você me tirar da conferência, Vinicius?”

“Aparentemente, nada grave, mas, veja bem doutor. Dormi bem. Acordei com muita disposição. Com muita fome. Não sinto dor nenhuma. Tenho vontade de correr. Isto não pode ser normal. Acho que algo de muito grave vai acontecer comigo!”.

O hipocondríaco só se deve deixar levar à emergência hospitalar nas terças, e quartas, quando os hospitais estão lotados. Não tem lugar. Nem na emergência. Os médicos, então, receitam e lhe mandam logo para a casa. Hipocondríaco não precisa mesmo de hospital…

Quando um paciente chega ao consultório com mais de três ou quatro sintomas ao mesmo tempo, e que mal consegue descrever com precisão um ou outro, o médico já sabe que é tudo imaginação. À sua frente está um hipocondríaco contumaz.

Se queixar de seis sintomas ao mesmo tempo, então, é quase romance, ou minissérie de televisão. O diagnóstico é imediato: surto de múltipla imaginação grau III.

Por tudo isto, para o hipocondríaco, a maior qualidade do médico não é expertise, conhecimento, prestígio, preço da consulta, universidade que cursou, hospital onde trabalha, ou taxa de sucesso de curas, afirmou a maioria dos entrevistados. A maior qualidade do médico é a disponibilidade. Estar ao alcance da mão. Ou melhor, dos gritos e sussurros.

Nas entrevistas que realizamos, se o médico quer conquistar um paciente hipocondríaco, (desperdiçam tempo, mas pagam bem), nada mais fácil. Dê o telefone do consultório, de sua casa, seu e-mail, seu número de celular, o telefone da secretária, do médico auxiliar, se possível mais de um, da emergência do hospital preferido, e, sobretudo, o telefone particular da esposa.

Aí, o cliente nunca mais lhe abandona. Sobretudo se sua esposa souber ouvir e transmitir as queixas. Tomar notas. E aumentar um pouco a gravidade relatada. A solidariedade da mulher do médico é decisiva. Ela mesma deve saber receitar Novalgina, Buscopan Composto, ou Rivotril pelo telefone ou e-mail.

E em casos extremos, o milagroso Motilium. Cura síndromes dispépticas, espinhela caída ou traz o amor de volta em até três dias, como diria Luís Roberto Barroso, jurista não hipocondríaco. Ainda por cima é compatível com neurolépticos. Mas, atenção! Pode provocar leves diarreias.

 Se o médico não tiver casa de fim de semana, melhor. Um dos melhores médicos, relatou-me um dos entrevistados, não tem casa de fim de semana no Rio, nem na serra, nem na praia. Mas, em compensação, tem apartamento e passa longas temporadas em Londres. O que pode ser uma vantagem, se coincidir sua viagem e sintomas em Londres, com a estadia anual dele por lá. Neste caso, Londres est une fête!

A origem da hipocondria pode, inclusive, ser o próprio médico. É preciso estar atento. Um parente de um dos entrevistados, paciente normal, sofria de dores abdominais cíclicas. Foi diagnosticado como “stress crônico”. Receitaram Rivotril sublingual, férias nos Alpes suíços, e promoção no trabalho. Quase morreu dias depois na mesa de operação. Estava desenvolvendo peritonite aguda. Escapou, mas ficou hipocondríaco para sempre. Tem hoje verdadeiro pavor a diagnósticos. Sua frio.

O hipocondríaco necessita apenas de uma explicação convincente e fundamentada. Nada o irrita mais do que quando o médico usa de “topoi”, tipo de diagnóstico que apazigua médicos, mas pouco explicam. “Você tem um vírus inespecífico”. Ou, “Você tem colo irritado”. Ou ainda, “Trata-se de mialgia”. Diagnósticos vagos. “É stress”. Este é o pior de todos, e o mais frequente, afirmaram os entrevistados.

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Hipocondria, no entanto, pode ser curada pelo próprio paciente. De muitas maneiras. Um hipocondríaco enfartava a cada duas semanas. Dava trabalho imenso. Família, colegas de trabalho, todos tinham que levá-lo de urgência para a clínica ou posto de saúde da empresa para tirar um eletro, que nunca dava nada. Nem mesmo o teste de esteira com cintilografia.

Resolveu então enfrentar a situação.

Toda vez que se anunciavam as dores do pré-enfarto corria para uma academia de ginástica. Subia na esteira. Corria cinco quilômetros em meia hora. Ou alternadamente, jogava-se na piscina, nadava mil metros de uma só vez. Se não morresse ou se afogasse, o diagnóstico era óbvio: transitória hipocondria cardíaca grau II.

Não morreu até hoje. Os pré-enfartes diminuíram. Nem colocou ponte de safena, como a imensa maioria de seus colegas, e como inclusive recomendavam alguns de seus próprios médicos.

Mas hipocondríaco também leva susto. Outro, tendo história familiar de complicações cardíacas, resolveu fazer, por precaução, cineangiocoronariografia preventiva. Mas, a anestesia, que em geral é leve, não foi suficiente.

A certa altura, ainda deitado , ouviu o médico dizer para a enfermeira, displicentemente, como se tivesse chupando um picolé de chocolate , diria Nelson Rodrigues, olhando o resultado para a telinha do aparelho: “Ih, o gato subiu no telhado”. Foi o suficiente.

Levantou-se, vestiu-se, arregimentou os parentes, saiu correndo da clínica em Botafogo e só parou dois dias depois em Cleveland, Ohio. Não tinha nada. Nem sabe, até hoje, se o gato era mesmo real. O médico podia tê-lo visto lá fora pela janela da sala dos procedimentos. Preferiu não averiguar.

Antes de optar por Cleveland, pensou até em ir para São Paulo. Mas quando você vai para o Sírio-Libanês, os paulistas dizem que o Albert Einstein é melhor. E vice-versa. Um inferno. Impossível decidir. Paulista compete até na doença. Agrava a já difícil confusão imaginativa do paciente.

Existe hipocondria preventiva. O hipocondríaco estava num restaurante, quando lhe apontaram: “Aquele é o melhor cirurgião da cidade”. Não teve dúvidas. Levantou-se, foi à mesa, e se apresentou.

“Doutor, soube que o senhor é o melhor cirurgião de todos, quero logo me apresentar. Meu nome é Alberto. Sei que vou precisar do senhor, mas não sei quando nem por que. Mas, ficamos logo apresentados, temos amigos comuns, tenho três planos de saúde, todos de luxo doutor, pagos religiosamente em dia etc…”

O cirurgião ficou boquiaberto. Comia um sushi. Nunca tinha tido um pré-operado na vida. Não deu outra. Ano e meio depois, encontraram-se na maca do hospital. O hipocondríaco deitado, feliz da vida. Estava nas mãos certas.

Outro relatou que tem cinco aparelhos de tirar pressão escondidos em todos os cantos da casa e do escritório de trabalho. Além, lógico, de ter um na mochila da academia de ginástica e outro no porta luvas do automóvel.

Existe também a hipocondria socialmente genética, repassada por estruturas moleculares. Não ainda constatada em DNAs, e modernos exames. Os filhos de pais hipocondríacos, afirmam alguns estudos, teriam mais chances de se tornarem hipocondríacos também. Afinal, querendo ou não, os pais transmitem aos filhos o que tem de bom, e o que tem de mau também.

Conheço um deles que diz que se preparou, e a família toda, para morrer de enfarte. Escapou. Não morreu. Morreu de câncer. Mas seu filho herdou, então, uma dupla probabilidade: a cardiológica imaginada e a oncológica real. Ficou hipocondríaco, mas vive bem até hoje.

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O hipocondríaco quer divulgação solidária. Avisar a todos. Dizer que faltou ao compromisso de trabalho porque está doente. Se possível, a secretária pode dar detalhes, evasivos, como se ela firmemente acreditasse na doença dele.

Hipocondríaco sério não se automedica. Apenas automedica os demais colegas. A si mesmo, raramente. Só o médico, a esposa ou a secretária de confiança do médico lhe receitam.

Não se sabe ao certo as causas da hipocondria. Ela é basicamente uma situação individual, que se concretiza numa relação comunicativa. Hipócrates (460 a 377 a.C) já a descrevia. São várias as causas. Muitos afirmam ter um fundo psicológico. Seria uma patologia do espírito.

O hipocondríaco pensa o tempo todo em seu corpo. Conhece-o melhor do que ninguém. Viaja-se em si mesmo todo o tempo. Uma permanente busca ostensiva por sintomas. Seria assim um tipo de autoeurotismo, diriam alguns freudianos. Talvez tenham razão.

Por isto mesmo, um hipocondríaco aceitou o conselho de seu médico clínico e foi procurar um terapeuta, um psicólogo, um psiquiatra. Não, pior. Foi direto, non-stop, para um psicanalista. Risco total. Psicanálise deitado. Gostou muito das sessões, por causa do tema do tratamento: ele mesmo. Não ficou bom, mas há vinte e um anos faz análise. É feliz.

Lembra a frase de Guimarães Rosa: de tão egocêntrico, ele se colecionava. Que melhor lugar existe para se colecionar, se não num confortável consultório de psicanalista, silencioso, com ar condicionado, luz baixa, deitado em acolhedor sofá, diante de uma autoridade, justificando a seu favor, tudo o que você fez. Tudo o que ainda não fez. Mas um dia fará.

Em Harvard, o grande sociólogo Robert Putnam, que inventou o conceito de social capital, fez a seguinte afirmação: “Um doente que fala de sua doença para pelo menos sete pessoas diferentes, tem cerca de 30% mais de chance de ficar bom, de encontrar algum tipo de cura. Isto está comprovado por pesquisas!”.

Tem razão Putnam. A disseminação e pluralização da informação aumentam as chances de cura, confirmações dos diagnósticos e possibilidades de tratamento. Diversifica-se o risco da doença, do mesmo modo que se diminui o risco financeiro de uma carteira de investimento diversificando os investimentos.

Ou seja, o hábito do hipocondríaco ir a vários médicos para doença nenhuma não é apenas imaginação ou autoerotismo. Hipocondria seria também uma estratégia estatística e preventiva de cuidar da própria saúde. O hipocondríaco confia na estatística “avant la lettre”.

Hipocondria educa. Um muito importante oncologista, membro da Academia Brasileira de Medicina diz que diante de um real diagnostico de câncer, o hipocondríaco é mais forte ao receber a notícia do que um paciente normal. Lógico, ele já treinou muito para este momento.

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Não só a qualidade do médico, mas a quantidade dos médicos pode resolver também. Um dia, a secretária de Jacqueline Kennedy deixou escapar que estava meio adoentada. Na mesma hora, Jacqueline disse: “Você precisa ver meu médico”.

A secretária hesitou e agradeceu. Jacqueline insistiu com um argumento definitivo: “Tenho médicos para todas as partes de seu corpo”. Tinha. Ao que parece, a secretária ficou curada.

Um dos maiores hipocondríacos de que se tem notícias foi Marcel Proust. Queixava-se que a mãe e a avó só lhes davam atenção quando doente. Tinha medo de quase tudo. Tinha asma. Medo até de vento, ou seja, de corrente de ar. Proust protegia-se do ar e de seu pânico ficando trancado em casa, no seu quarto, Celeste a lhe servir. Deitado. Mas, como não tinha televisão, nem internet, aproveitou sua imaginação e escreveu “Em busca do tempo perdido”. Pas mal du tout!

A conclusão das entrevistas foi a de que se você é, então, um hipocondríaco, deve se assumir. Tal qual Vinicius de Moraes, Toquinho, Andy Warhol, Howard Hughes, Woody Allen, e tantos outros.

Sem esquecer que no Brasil temos ainda o senador José Serra, um hipocondríaco de padrão mundial, assim como o músico João Gilberto e o banqueiro José Luiz de Magalhães Lins. Estes dois últimos, como Proust, se trancaram. Raramente saem de casa. Trio brasileiro a orgulhar qualquer nação.

O importante, concluíram, é a necessidade de ter sempre uma atitude hipocondriacamente realista. Saiba logo que quanto menos você precisa do médico, mais útil ele será. Até o dia em que você precisar desesperadamente dele, e ele nada mais poderá fazer. Aí, como dizem os franceses: “il faut faire les adieux ”.

Notas

Trata-se de um reflexivo resumo livre, com base em uma série de entrevistas com pacientes que se reconheceram hipocondríacos.

[2] FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3ª ed., Curitiba: Positivo, 2004, p. 1046.

[3] Ver http://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/hypochondria/basics/definition/con-20028314. Acesso em 01.06.2015.

*artigo publicado na Revista Insight Inteligência, nº 69, abril/maio/junho de 2015. pg. 88-94